26.9.05

Gal Costa, 1969

Gal Costa, 1969. Este, cronologicamente, é o segundo LP solo de Gal. Fiquei em dúvida quanto a qual colocar primeiro. Sabia que se colocasse o "primeiro" primeiro (que, aliás, também foi lançado em 1969 e com o nome de "Gal Costa" também) o raciocínio seria mais lógico e linear. Mas se fizesse isso, teria vontade de colocar todos os outros em ordem cronológica também e o blog perderia seu "colorido casual"... hehehehe

Bom, filosofias pessoais à parte, vamos à filosofia que realmente interessa!!!

A curiosidade começa pela capa. A primeira coisa que pensei quando vi a capa deste disco pela primeira vez foi "Nossa, mas que coisa mais psicodélica para ser da Gal Costa!"... A verdade é que nunca imaginaria ouvir o que ouvi. Foi tudo muito novo para mim. Um disco de 1969 com tanto colorido (por fora e por dentro) e tão forte, atualíssimo.

Caetano e Gil foram para o exílio em Londres, onde ficariam por três anos. Ficou para Gal a tarefa de representar e sentir na pele a dor e a delícia do Tropicalismo sem seus dois principais alicerces. E foi o que ela fez e transportou para este disco: acidez, psicodélia, desespero pulsante, que chama e pede por atenção. Gal se transforma numa leoa.

É um disco curto, objetivo. Nove faixas que te levam, progressivamente, ao delírio. Ele começa "são", mas com a guitarra ácida de Lanny Gordin e negando as "tardes mornais, normais" com a música "Cinema Olympia, de Caetano. A segunda faixa nos leva para os oásis escaldantes, com "Tuareg", de Jorge Ben. Na terceira faixa já começamos a ver indícios do delírio, com "Cultura e Civilização", de Gil:

"A cultura, a civilização / Elas que se danem! / Ou não"

A sensação que dá é que a voz de Gal começa a se aquecer. Ela começa a "se soltar", vocalizando, gritando, alucinando.

Num disco de nove faixas, a quinta é a faixa do meio, certo? A transição do lado A para o lado B. E a quinta faixa desde disco é "Meu nome é Gal", presente de Roberto e Erasmo Carlos. No meio da música ela bate na porta e se apresenta:

"Meu nome é Gal, tenho 24 anos, nasci na Barra Avenida e todo dia sonho alguém pra mim(...)"

E na outra metade dela, ela arromba a porta e se revela. Se solta, alucina mais, vocaliza, muda de oitavas, encarna a Leoa completa. Arrasa. E isso se estende até o fim. Entram efeitos mais explícitos, ruídos vocais e instumentais.

Entra mais Gil. "Com Medo, com Pedro" é, na minha análise, uma música para seu filho Pedro; Que também pode ser o menino da capa do Expresso 2222 (suposições minhas, que vou averiguar ainda). E também entra Jards Macalé na parada. Mais Caetano, mais loucura. "The Empty Boat", de Caetano é uma coisa louca. Só ouvindo mesmo.

"Objeto sim, objeto não", de Gil é o ápice do inesperado. Fico imaginando o que sentiram todos que ouviram esta música num vinil, em 1969! Efeitos mil, psicodelias... Demais, demais...

E na última faixa, "Pulsars e Quasars", de Macalé e Capinam, mensagens para Caetano e Gil:

"Cá e Gil me mandem notícias logo"

...porque

"Sem voz /os novos seres seguem, mas sem voz
Sem a voz os ruídos terão sentidos e teus sentidos perdidos"

As músicas nascem, mas sem Caetano e Gil, nada faz sentido.

...Mas este disco faz todo o sentido. A capa, a voz, a acidez, toda a loucura dele é absolutamente compreensível. É a dor e a delícia de Gal.

Texto de Caetano na contra-capa: "(...)Ninguém pode deplorar o nosso Vale-Tudo: quando Gal canta, ele vale-nada. Gal explodiu sozinha. Só vale Gal. Eu sei que é assim".

E ponto final.

22.9.05

Expresso 2222, 1972

É este que estou ouvindo nesse momento!

Este foi o disco lançado por Gilberto Gil logo após de sua volta do exílio, em Londres. Ao mesmo tempo, Caetano Veloso lançava "Araçá Azul", seu disco de longe mais polêmico, que comentarei em breve.

Resume-se numa mistura maravilhosa de ritmos e influências, coisas que só Gilberto Gil poderia fazer. Nada para comentar da mistura inacreditável de "Sai do Sereno", um baião com guitarras, pianos, baixo e bateria, (participação de Gal) com um riff de "Fire", de Jimmi Hendrix!!! Nem da hipnótica "Oriente", só em voz e violão. Muito menos da faixa-título do disco, "Expresso 2222". Nem da alegre/comovente "O Sonho Acabou".

"Lá em Londres, vez em quando, me sentia longe daqui..."
"O sonho acabou / E foi pesado o sono pra quem não sonhou"
"Só ponho be-bop no meu samba quando o Tio Sam pegar no tamborim"

Vocalizes geniais. Tempos tortos. Letras percurssivas, comoventes e muitas vezes nostálgicas, mas envoltas numa atmosfera sempre, sempre alegre, bem como faz o brasileiro. E na minha opinião, ninguém traduz isso melhor que Gil.

Samba, baião, rock, be-bop... violão, pífanos, guitarras, pianos, caxixis, triângulo, bateria, pandeiros, vozes...

Tutty Moreno, Lanny Gordin, Bruce Heny, Antônio Perna, Gal Costa...

Isso só pode resultar em Gilberto Gil. Em Expresso 2222.

Recomendadíssimas: Todas que citei acima, além de "Chiclete Com Banana", "Back in Bahia" (que, aliás, esteve na trilha sonora genial do filme Durval Discos), "O Canto da Ema".

Para quem quiser saber mais, algumas das letras deste disco estão comentadas por Gil em seu site oficial. O Link está aí!

19.9.05

Clube da Esquina, 1972

E este lugar se inaugura com cheiro de mato. De minas.

Estou há três dias consecutivos devorando este LP.

O Clube da Esquina foi tido como um movimento musical, assim como a Tropicália. Foi a vez dos mineiros darem o tom: Toninho Horta, Beto Guedes, Lô Borges, Milton Nascimento e outros, reunidos, mostrando os novos rumos da música. Fusão de música popular com rock progressivo num disco duplo.

O disco tem toda uma atmosfera. Violões de aço, percurssões, vocais maravilhosos. Toda vez que ouço me sinto demasiadamente bem. Melodias lindas que preenchem o ar de pureza. É o ar de Minas Gerais.

Recomendadíssimas:

O recomendado é que se tenha o tempo disponível para saborear este LP por inteiro. Recomendar todas é clichê, recomendar nenhuma é fora de propósito. As músicas do meu momento têm sido "Tudo Que Você Podia Ser" (Lô Borges/Marcio Borges) e "Nuvem Cigana" (Lô Borges / Ronaldo Bastos).