Geraldo Vandré - Canto Geral, 1968
E quem disse que o ano de 1968 foi marcado apenas de psicodelia e iê-iê-iê?
Outra vertente forte da época foi a da música de protesto e não há maior representante desta música que Geraldo Vandré.
Esta capa não é a capa original, mas é muito significativa; Em cima, gado; Embaixo, gente. Verde e amarelo. Vermelho. Canto Geral. Canto para todos.
A palavra que, para mim, resume o disco é Raça. A primeira faixa é a tradução disso. O início de "Terra Plana", de autoria dele mesmo, é uma declamação; "(...) deixo claro que a firmeza de meu canto vem da certeza que tenho, de que o poder que cresce sobre a pobreza e faz dos fracos riqueza, foi que me fez cantador". Na contra-capa do disco, um texto seu; "(...) Às vezes penso que cantando mereço um pouco de vida. Saldo em parte os meus compromissos e tenho então, cada vez mais forte, a sensação da liberdade. Por isso aprendo a cantar e canto."
É um disco forte. Vivo. Pulsante. Violas caipiras, triângulos, "ca-chi-chis" (como Vandré mesmo escreve), vocais em lamentos nordestinos... E, no meio de tudo, um aparato inusitado na época: uma queixada de burro, que fora utilizada pela primeira vez - se não me engano - no II Festival de Música Popular Brasileira de 1966, da TV Record, na música "Disparada", também de Vandré e cantada com maestria por Jair Rodrigues. Música que, aliás, ganhou o primeiro lugar empatada com "A Banda", de Chico Buarque.
Mas, além das músicas explicitamente inflamadas, como "Cantiga Brava" (O terreno lá de casa não se varre com vassoura / varre com ponta de sabre, bala de metralhadora) há também músicas de "amor", podendo-se assim dizer. É o que se vê em "Companheira" (Mas agora sou feliz/ e meu canto vem e diz/ encontrei a companheira/ paz pra minha vida inteira) e "Maria Rita" (Pego a viola, me lembro dela/ toco a viola, só quero ela).
Recomendadíssimas: "Arueira", cantiga forte, viva, - brava mesmo! - e que conta com os vocais perfeitos do Trio Marayá ("...é a volta do cipó de arueira no lombo de quem mandou dar..."), "Companheira", que soa quase como cantiga suave de ninar e a curiosa "Ventania (De como um homem perdeu seu cavalo e continuou andando)", que procura seguir a mesma fórmula da vencedora "Disparada", com um personagem principal que roda o mundo contando suas histórias. Esta música até concorreu o III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, mas não ganhou...
Detalhe para um excerto de Bertold Brecht, na contra-capa:
"Desses tempos em que falar de árvores é quase um crime, pois implica em silenciar sobre tantos erros - aos que virão depois de mim."
Este foi o ano de 1968.
Outra vertente forte da época foi a da música de protesto e não há maior representante desta música que Geraldo Vandré.
Esta capa não é a capa original, mas é muito significativa; Em cima, gado; Embaixo, gente. Verde e amarelo. Vermelho. Canto Geral. Canto para todos.
A palavra que, para mim, resume o disco é Raça. A primeira faixa é a tradução disso. O início de "Terra Plana", de autoria dele mesmo, é uma declamação; "(...) deixo claro que a firmeza de meu canto vem da certeza que tenho, de que o poder que cresce sobre a pobreza e faz dos fracos riqueza, foi que me fez cantador". Na contra-capa do disco, um texto seu; "(...) Às vezes penso que cantando mereço um pouco de vida. Saldo em parte os meus compromissos e tenho então, cada vez mais forte, a sensação da liberdade. Por isso aprendo a cantar e canto."
É um disco forte. Vivo. Pulsante. Violas caipiras, triângulos, "ca-chi-chis" (como Vandré mesmo escreve), vocais em lamentos nordestinos... E, no meio de tudo, um aparato inusitado na época: uma queixada de burro, que fora utilizada pela primeira vez - se não me engano - no II Festival de Música Popular Brasileira de 1966, da TV Record, na música "Disparada", também de Vandré e cantada com maestria por Jair Rodrigues. Música que, aliás, ganhou o primeiro lugar empatada com "A Banda", de Chico Buarque.
Mas, além das músicas explicitamente inflamadas, como "Cantiga Brava" (O terreno lá de casa não se varre com vassoura / varre com ponta de sabre, bala de metralhadora) há também músicas de "amor", podendo-se assim dizer. É o que se vê em "Companheira" (Mas agora sou feliz/ e meu canto vem e diz/ encontrei a companheira/ paz pra minha vida inteira) e "Maria Rita" (Pego a viola, me lembro dela/ toco a viola, só quero ela).
Recomendadíssimas: "Arueira", cantiga forte, viva, - brava mesmo! - e que conta com os vocais perfeitos do Trio Marayá ("...é a volta do cipó de arueira no lombo de quem mandou dar..."), "Companheira", que soa quase como cantiga suave de ninar e a curiosa "Ventania (De como um homem perdeu seu cavalo e continuou andando)", que procura seguir a mesma fórmula da vencedora "Disparada", com um personagem principal que roda o mundo contando suas histórias. Esta música até concorreu o III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, mas não ganhou...
Detalhe para um excerto de Bertold Brecht, na contra-capa:
"Desses tempos em que falar de árvores é quase um crime, pois implica em silenciar sobre tantos erros - aos que virão depois de mim."
Este foi o ano de 1968.
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