Maria Bethânia - Rosa Dos Ventos (Show Encantado) - 1971
Hoje fiquei pensativa de repente. Não sei, ando muito sensível, saudosista, não sei...
Então entrei no meu quarto procurando por algum disco para ouvir e logo peguei esse aqui.
Este show é o mais obscuro que tenho de Bethânia. Pela capa já é possível sentir o clima e o disco é realmente assim; A impressão que dá é que ela está só no palco, num lugar enorme (apesar de ser instrumentado basicamente com um piano e sintetizadores, baixo e bateria)... Músicas intercaladas com textos de Fernando Pessoa e Clarisse Lispector fazem a atmosfera parecer mais encantada. O disco é ruidoso (isso é uma constatação, visto que este é o terceiro exemplar que comprei por causa disso e, apesar de este ter o áudio mais claro, ainda assim tem o lado A mais ruidoso e com qualidade inferior ao lado B. Há muitas variações de volume entre as faixas e até mesmo numa mesma faixa.
Digo que o lado A obscuro porém um pouco mais "claro", mais saudoso da infância, praiano, mais emocional e ao mesmo tempo triste. Só para sentir melhor, as palavras que iniciam o disco são da canção "Assombrações" de Sueli Costa e Tite Lemos: "As sombras são assombrações(...)". Logo depois vem "O Tempo e o Rio" de Edu Lobo e Capinam: "O tempo é como o rio onde banhei o cabelo de minha amada". Então ela recita Fernando Pessoa: "(...) Mar sou; baixo marulho ao alto rujo/ Mas minha cor vem do meu alto céu/ E só me encontro quando de mim fujo."
Seguem músicas de Dorival Caymmi ("O Mar" e "Suíte Dos Pescadores"), Caetano Veloso ("Avarandado") cantigas de roda do folclore baiano e músicas de carnaval do compositor Batatinha, que como ela mesma apresenta, "Ele só compõe para o carnaval mas na minha opinião ele fez tudo ao contrário: As marchas de carnaval são alegres, pra cima e os sambas do Batata são tristíssimos! Mas suas melodias são lindissimas e suas letras são maravilhosas". Canta então três músicas dele: "Toalha da Saudade", "Imitação" e "Hora da Razão".
O lado A termina com Fernando Pessoa, um excerto do "Guardador de Rebanhos", do momento em que o narrador encontra-se com Jesus através de um menino. Um texto que ela recita suavemente, lindamente, do jeito emocionante que só Bethânia sabe fazer.
O lado B é catastrófico, apocalíptico; Começa com "Minha História" a versão que Chico Buarque fez da música italiana "Gesubambino", a história de um menino que é conhecido por menino Jesus, passa pelo "El Día Que Me Quieras" de Carlos Gardel e volta para Chico na apocalíptica "Rosa Dos Ventos", música título do Show: "Numa enchente amazônica/Numa explosão atlântica/ E multidão vendo em pânico/ A multidão vento atônita/Ainda que tarde o seu despertar" .
E então o clima fica mais intenso. Novamente com Pessoa ela diz "(...)Meu coração não aprendeu nada. Meu coração não é nada. Meu coração está perdido" e revela seus desejos obscuros com "Janelas Abertas nº2" de Caetano: "Sim, eu poderia em cada quarto rever a mobília/ em cada um matar um membro da família (...) Mas eu prefiro abrir as janelas/ Pra que entrem todos os insetos".
O instinto da paixão a fulmina através de um poema de Moreno: "(...)E quando tiveres perto/ arrancarei teus olhos/ E os colocarei no lugar dos meus/ E tu arrancarás meus olhos/ E os colocará no lugar dos teus./ Então te olharei com teus olhos/ E tu me olharás com os meus" emendando a loucura com outra de Caetano: "Não Identificado" "(...)Eu vou fazer uma canção de amor/ Para gravar num disco voador".
Clarisse é quem termina o show. Depois das assombrações, catástrofes e paixões antropofágicas, eis que Bethânia volta a si e devolve os olhos ao amado: "(...) e eis que depois de uma tarde de "quem sou eu?" e de acordar à uma hora da madrugada em desespero... eis que às três da madrugada acordei e me encontrei. Simplesmente isso: Eu me encontrei. Calma, alegre, plenitude sem fulminação. (...) Mas por enquanto olha pra mim e me ama. Não. Tu olhas pra ti e te amas. É o que está certo."
Na música, Jards Macalé (Movimento Dos Barcos): "(...)Desculpe a paz que eu lhe roubei./ (...) Não quero ficar dando adeus. / (...) Não sou eu quem vai ficar chorando não/ Olhando o eterno movimento dos barcos".
Recomendadíssimas: O disco todo. A costura nas músicas que Bethânia faz com os textos é maravilhosa. Ficaria aqui comentando cada detalhe dele, mas como podem perceber, já falei demais. Só ouvindo mesmo. Este disco é realmente encantado.
Esta resenha é dedicada à minha amiga Karol
Então entrei no meu quarto procurando por algum disco para ouvir e logo peguei esse aqui.
Este show é o mais obscuro que tenho de Bethânia. Pela capa já é possível sentir o clima e o disco é realmente assim; A impressão que dá é que ela está só no palco, num lugar enorme (apesar de ser instrumentado basicamente com um piano e sintetizadores, baixo e bateria)... Músicas intercaladas com textos de Fernando Pessoa e Clarisse Lispector fazem a atmosfera parecer mais encantada. O disco é ruidoso (isso é uma constatação, visto que este é o terceiro exemplar que comprei por causa disso e, apesar de este ter o áudio mais claro, ainda assim tem o lado A mais ruidoso e com qualidade inferior ao lado B. Há muitas variações de volume entre as faixas e até mesmo numa mesma faixa.
Digo que o lado A obscuro porém um pouco mais "claro", mais saudoso da infância, praiano, mais emocional e ao mesmo tempo triste. Só para sentir melhor, as palavras que iniciam o disco são da canção "Assombrações" de Sueli Costa e Tite Lemos: "As sombras são assombrações(...)". Logo depois vem "O Tempo e o Rio" de Edu Lobo e Capinam: "O tempo é como o rio onde banhei o cabelo de minha amada". Então ela recita Fernando Pessoa: "(...) Mar sou; baixo marulho ao alto rujo/ Mas minha cor vem do meu alto céu/ E só me encontro quando de mim fujo."
Seguem músicas de Dorival Caymmi ("O Mar" e "Suíte Dos Pescadores"), Caetano Veloso ("Avarandado") cantigas de roda do folclore baiano e músicas de carnaval do compositor Batatinha, que como ela mesma apresenta, "Ele só compõe para o carnaval mas na minha opinião ele fez tudo ao contrário: As marchas de carnaval são alegres, pra cima e os sambas do Batata são tristíssimos! Mas suas melodias são lindissimas e suas letras são maravilhosas". Canta então três músicas dele: "Toalha da Saudade", "Imitação" e "Hora da Razão".
O lado A termina com Fernando Pessoa, um excerto do "Guardador de Rebanhos", do momento em que o narrador encontra-se com Jesus através de um menino. Um texto que ela recita suavemente, lindamente, do jeito emocionante que só Bethânia sabe fazer.
O lado B é catastrófico, apocalíptico; Começa com "Minha História" a versão que Chico Buarque fez da música italiana "Gesubambino", a história de um menino que é conhecido por menino Jesus, passa pelo "El Día Que Me Quieras" de Carlos Gardel e volta para Chico na apocalíptica "Rosa Dos Ventos", música título do Show: "Numa enchente amazônica/Numa explosão atlântica/ E multidão vendo em pânico/ A multidão vento atônita/Ainda que tarde o seu despertar" .
E então o clima fica mais intenso. Novamente com Pessoa ela diz "(...)Meu coração não aprendeu nada. Meu coração não é nada. Meu coração está perdido" e revela seus desejos obscuros com "Janelas Abertas nº2" de Caetano: "Sim, eu poderia em cada quarto rever a mobília/ em cada um matar um membro da família (...) Mas eu prefiro abrir as janelas/ Pra que entrem todos os insetos".
O instinto da paixão a fulmina através de um poema de Moreno: "(...)E quando tiveres perto/ arrancarei teus olhos/ E os colocarei no lugar dos meus/ E tu arrancarás meus olhos/ E os colocará no lugar dos teus./ Então te olharei com teus olhos/ E tu me olharás com os meus" emendando a loucura com outra de Caetano: "Não Identificado" "(...)Eu vou fazer uma canção de amor/ Para gravar num disco voador".
Clarisse é quem termina o show. Depois das assombrações, catástrofes e paixões antropofágicas, eis que Bethânia volta a si e devolve os olhos ao amado: "(...) e eis que depois de uma tarde de "quem sou eu?" e de acordar à uma hora da madrugada em desespero... eis que às três da madrugada acordei e me encontrei. Simplesmente isso: Eu me encontrei. Calma, alegre, plenitude sem fulminação. (...) Mas por enquanto olha pra mim e me ama. Não. Tu olhas pra ti e te amas. É o que está certo."
Na música, Jards Macalé (Movimento Dos Barcos): "(...)Desculpe a paz que eu lhe roubei./ (...) Não quero ficar dando adeus. / (...) Não sou eu quem vai ficar chorando não/ Olhando o eterno movimento dos barcos".
Recomendadíssimas: O disco todo. A costura nas músicas que Bethânia faz com os textos é maravilhosa. Ficaria aqui comentando cada detalhe dele, mas como podem perceber, já falei demais. Só ouvindo mesmo. Este disco é realmente encantado.